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sábado, 29 de setembro de 2012

Primeiro cumprimento de Mandado de Busca e Apreensão


Sexta-feira.
Não escrevi sobre a quinta-feira, pois não tinha nada de muito interessante.
De diferente, apenas uma oitiva de um investigado.

Embora não tivesse nada ver com o motivo de ele estar sendo inquirido, me contou sobre como perdeu tudo desde que se tornou viciado em crack.
Tinha um certo padrão de vida e entregou tudo pro tráfico.

A sexta-feira prometia.
Tínhamos dois Mandados de Busca e Apreensão (MBA) que deveriam ser cumpridos na quinta-feira, mas, devido a outros compromissos, foram adiados.

Era presumível que seriam cumpridos na sexta.
Por isso, tirei minha calça tática preta da mala e a camiseta preta da polícia civil.

Para ir até a Delegacia usei um casaco, um pouco pelo frio, um pouco pra não chamar a atenção.
Depois, os colegas mais velhos informaram que é interessante não andarmos com nada que nos identifique como policiais.

Isso facilitará em investigações futuras, pois não seremos conhecidos.
Pois bem, o dia, como o anterior, estava corrido pra todo mundo, o que dificultava o cumprimento dos mandados, pois precisaríamos de duas equipes.

Ainda pela manhã, recebemos um pedido de apoio na prisão de um homem.
Quando chegamos lá ele já havia sido preso.

E o apoio era muito mais técnico, pois ele não estava em condições de esboçar reação, pela idade e pelo estado de saúde.
Mais tarde, levamos esse mesmo homem até o presídio.


Pela tarde fomos cumprir o MBA em duas equipes, pois eram dois endereços simultâneos.
A adrenalina estava moderada.

Saímos de viatura a procura do endereço.
Logo ao avistá-lo, a policial que dirigia estacionou na contramão mesmo.

Descemos rápido.
Tive que ser rápido ao sacar a arma enquanto segurava a prancheta com o MBA e descer do carro, tudo ao mesmo tempo.

Eu e uma colega pela porta da frente e dois colegas cuidando a porta dos fundos.
Havia apenas um homem e uma senhora de idade na casa.

Foi apresentado o MBA e dito a que estávamos ali.
Antes de revistar o homem, dei uma geral no sofá onde eu saberia que deveria colocá-lo sentado para ver se não havia nada. E não havia.

Só então procedi a revista pessoal. Também não havia nada. Limpo!
Pedi para que ele se sentasse no sofá e fiquei de olho nele.

Arma no coldre, mas a mão no cabo indicava que, em caso de necessidade, o saque seria rápido. Questão de segurança.
Não há como saber se haverá reação ou não. Então, o melhor é ficar pronto.

Os outros colegas procuravam armas, drogas e outros objetos pela casa.
Depois de alguns minutos de busca, nada foi encontrado, em nenhum dos dois endereços.

Pedimos desculpa, explicamos que é o nosso trabalho e fomos embora.
A tensão de todo o procedimento deixava com uma sensação boa, causada pela adrenalina.

Mais tarde, estávamos levando as colegas que ainda não haviam saído pra rua para conhecer alguns pontos da cidade.
No meio do caminho, uma ligação pro telefone do meu colega.

Estrobos ligados e mudança de direção
“- Precisamos abordar alguém!”

Armas sacadas e alimentadas!
Procuramos nas redondezas o tal indivíduo com as características passadas.

Não encontramos ninguém.
O dia movimentado, mas sem resultados práticos.

Faz parte.
Lição do dia: TO GOSTANDO MUITO!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Notícias muito boas!

Após o desabafo de ontem, um pouco de notícias boas:

Consegui um apartamento!
Três quadras da Delegacias, muito bem localizado, grande, quartos com sacada pra rua, etc.

Há dois quartos normais e um pequeno no apartamento.
Já havia olhado esse mesmo apartamento ontem junto com outro colega, o Diego, que também é de São Luiz Gonzaga e procura um lugar pra ficar, mas ficaria caro dividirmos somente em dois o aluguel.

Quando comentamos com a Luana, ela disse que não teria problema em ficar com o quarto menor.
Então o Diego e eu decidimos que ela pagaria menos, por ficar com o quarto menor e acertamos assim.

Ficaremos em um ótimo lugar, bem instalados, sem pagar muito.
Acho que consigo levar minhas coisas pra lá no fim de semana.

A outra boa notícia é de que o meu colega de SI, mesmo que dê certo sua transferência, ficará, pelo menos, mais dois meses trabalhando ali.
Tempo suficiente pra que eu aprenda o máximo possível.

Aliás, hoje recebi um elogio dele.
Ele disse que eu estou adiantado, que aprendo rápido.

Sinto que o trabalho já começa a fluir com o passar dos dias.
Meu diário funcional está cheio de afazeres. Estou mostrando serviço.

Ah, esqueci de mencionar nos posts anteriores que, após o susto inicial com o preço dos restaurantes, achamos um lugar a preços módicos.

O lugar é simples, mas é barato, que é o que importa pra quem está sem receber.

As boas notícias de hoje mostram como as coisas são dinâmicas.
É clichê mencionar, mas tudo muda o tempo todo, notícias boas e ruins vêm e vão.

Lição de hoje: NEM A FELICIDADE, NEM OS PROBLEMAS SÃO PERMANENTES.

 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Notícias nada boas


Não está fácil alugar um lugar pra morar aqui.
Tudo muito caro pra um policial recém saído da Academia.
Quase não há imóveis pra alugar e os que existem...
Arrisco-me a dizer que os aluguéis aqui praticamente equiparam-se aos de Porto Alegre.
E, pra piorar, recebo a notícia de que o primeiro salário virá só em Novembro.

Terei que me virar até lá.
Ainda não encontrei um lugar pra ficar em definitivo.

Estou ficando em um lugar graças a boa vontade daquele amigo da Luana, que nos cedeu um espaço em cima da loja em que ele trabalha. O lugar é simples, tudo meio improvisado, um acampamento, como ele mesmo refere. Mas está quebrando um baita galho, não posso reclamar.
Além de tudo isso, acho que meu colega de SI vai conseguir uma transferência para a cidade natal, algo que ele pleiteava há tempos.

Embora seja algo muito bom pra ele, fico triste, pois sei que aprenderia muito trabalhando com ele.
Mas não há nada definido ainda.

E, de qualquer forma, a vida segue.
Ah, tenho que aprender a prestar mais atenção.
Pela terceira vez, desde que saí de casa e comecei a morar sozinho, compro condicionador de cabelo achando que é xampu (sim, em português se escreve assim).

Quanto ao trabalho, não fiz nada que um policial novato ache interessante.
Tivemos uma reunião pela manhã e a tarde fiquei em cartório fazendo autuações.

Trabalho repetitivo.
Extraindo cópias, organizando inquéritos, verificando que diligências devem ser tomadas, essas coisas.

Lição de hoje: TER CALMA, VAI DAR TUDO CERTO!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Primeiras atividades mais operacionais


24 de setembro de 2012.
Após a apresentação, seguido de um bom descanso no fim de semana, chegava a hora de começar de verdade, em uma segunda-feira, com a semana toda pela frente.

Logo pela manhã realizei uma oitiva de uma vítima de roubo.

Aprendi que essa não é uma tarefa puramente nossa.
Nossa função na SI é apurar a autoria e, então, remeter o procedimento ao cartório para a lavratura das outras peças.

Ainda pela manhã, meu colega me informou que faríamos uma condução de preso.
A adrenalina já sobe só com a notícia, é inevitável.

O indivíduo foi preso em flagrante por embriaguez ao volante e estava calmo.
O levamos até o presídio na viatura.

Apesar do receio, foi uma coisa bem tranqüila.
A tarde começou com trabalhos burocráticos internos.

Meu colega me convidou para pegar alguns documentos no Forum.
Havia um mandado de prisão.

Ele pediu o endereço e, após ouvir minha resposta, começou a se deslocar para lá.
Pensei que passaríamos na Delegacia buscar mais alguns colegas.

Acredito que não tenha me avisado com antecedência ou por que já é uma tarefa comum para ele, ou pra que eu não ficasse nervoso.
Perguntei se iríamos só os dois efetuar a prisão e ele, em tom de brincadeira, disse que sim, afinal eu tinha quinze tiros a disposição na arma.

Fazia sentido. Ou não.
Fiquei pensando em como agir. Descer com a arma na mão? Poderia parecer muito agressivo.

Descer com a arma no coldre? Poderia parecer que estava achando fácil e dar margem para uma reação do indivíduo a ser preso.
Na dúvida, deixei a arma na cintura, mas bem visível, como um aviso.

Meu colega pediu pra eu guardar uma cópia do mandado no bolso e deixar a prancheta na caminhonete, pois, caso precisasse correr, era mais fácil.
Correr? Barbaridade!

Quando chegamos perto do endereço, ele pediu pra eu ajudar a procurar, talvez estivesse pela rua, um indivíduo branco e muito forte.
Muito forte? A coisa só piorava.

Eu só pensava em um indivíduo muito forte, recebendo a notícia de que iria ser preso e olhando pra mim pensando: “eu ouvi bem?”
Logo vi que mais uma viatura discreta nos acompanhava e fiquei mais tranqüilo.

Ele não estava em casa.
Diligenciamos em vários locais, mas não o encontramos.

Fiquei triste.
Já estava preparado psicologicamente pra prender o cara. Ou não.

De qualquer forma, valeu o dia pelos novos aprendizados.
A segunda lição, certamente, foi: ESTEJA SEMPRE PRONTO!

Primeiro dia na Delegacia


Após a posse, era chegada a hora de começar a trabalhar.
O calendário marcava o dia 21 de setembro de 2012.

Fui de carro, pois, como era sexta-feira, tinha planos de voltar no mesmo dia.

A primeira impressão foi muito boa.

Um prédio novo, de dois andares, com o preto e branco predominando na fachada.
O interior mostrava organização e excelente estrutura.

A apresentação foi típica de quando se chega a um lugar novo, em que não se conhece ninguém.
Conversamos com os colegas que já haviam chegado enquanto esperávamos o momento de nos apresentarmos ao delegado.

Chegado o momento, fomos até a sala do Delegado, com os ofícios em mãos.

Tivemos uma rápida conversa e continuamos a conhecer as dependências até chegar à sala do outro Delegado, no segundo andar.

Outra rápida conversa e descemos até o primeiro andar enquanto os delegados decidiam em que seção trabalharíamos.


A boa estrutura para o bom desempenho das atividades se estende também aos veículos.

No mesmo dia já realizei uma oitiva, um auto de reconhecimento e fomos até alguns bairros conhecer a cidade e alguns dos pontos de venda de drogas.

Seguindo os passos do meu colega, tenho um diário, relatando todas as atividades, desde as mais simples. Ao final de cada semana, imprimo e entrego ao Delegado. Uma boa forma de mostrar que se está trabalhando.

A primeira lição, certamente, foi ORGANIZAÇÃO.


sábado, 22 de setembro de 2012

Escolha da lotação


Saímos na terça-feira, dia 18 de setembro, rumo a Porto Alegre, pois a posse seria dia 19.
Pegamos muita, mas muita chuva pelo caminho.

Chuva sem cessar. Por vezes mais fraca, outras vezes mais forte, mas permanente.
Pra se ter uma idéia, saímos antes das 15h de São Luiz Gonzaga e chegamos em Porto Alegre por volta das 23h. Muito, pra um percurso de menos de 600 km.

Eu havia reservado um lugar na ASSTBM, Associação dos Sargentos da Brigada, mas como Porto Alegre estava embaixo d’água, literalmente, resolvi aceitar o convite do meu amigo João Fernando e passar a noite no apartamento dele.
Foi difícil dormir, confesso.

Embora estivesse extremamente cansado, a preocupação e a ansiedade teimavam em roubar-me o sono.
A ansiedade e a dúvida já haviam me roubado algumas lágrimas na hora de me despedir da mãe e da namorada.

Tudo isso pelo fato de eu saber que inevitavelmente ficaria longe de casa.
Não havia ficado bem classificado e, portanto, dificilmente conseguiria uma das poucas vagas perto de casa.

A maioria das vagas era na região metropolitana.
Mesmo as do interior eram muito longes de casa.

O meu sentimento era de que aquela despedida era definitiva.
Viria raramente para casa e teria de me acostumar em uma cidade diferente.

Mesmo com todas essas preocupações, o sono acabou me vencendo e eu dormi.
Acordamos cedo. A organização exigia nossa presença às 7h.

Como a garoa ainda incomodava um pouco, fomos levados para um lugar coberto, atrás do Palácio da Polícia.
Separados em quatro grandes grupos, fomos levados até o salão onde seria a cerimônia de posse.

A cerimônia foi simples e rápida.
Logo nos deslocamos, em ordem de classificação, para assinar os papéis referentes a posse.

Depois dali, o destino era a Academia de Polícia.
Temi pela organização da escolha das lotações e pela entrega do material.

Várias vezes critiquei a Academia pela forma como conduzia algumas coisas.
Dessa vez, me surpreendi positivamente. A organização estava excepcional. Ainda mais levando-se em consideração o grande número de pessoas envolvidas, tanto na escolha, quanto na organização de tudo.

Dos 500 nomeados, eu havia ficado em 323º.
Isso significava uma escassa possibilidade de escolha.

Havia levado uma mala com quase tudo o que precisaria para sair dali e ir apresentar-me onde quer que fosse lotado.
Apesar de ter quinze dias para entrar em exercício, uma demora poderia fazer a diferença, já que outros colegas seriam mais “antigos” e teriam preferência em futuras promoções.

Tinha em mãos uma lista de cidades que distavam em torno de 300 km de São Luiz Gonzaga.
A ordem de preferência era essa: São Borja, Cruz Alta, Santo Augusto, Três Passos, Carazinho e Tenente Portela.

As primeiras estavam na lista por desencargo de consciência. Seria difícil que estivessem disponíveis até chegar minha vez.
Se não conseguisse alguma delas, meu destino seria a Serra. Tentaria Carlos Barbosa.

Não queria ficar na região metropolitana.
Por ordem de classificação, foram sendo chamados pequenos grupos até o salão principal.

Um telão no térreo auxiliava aqueles que, como eu, esperavam sua vez, já que mostrava quais vagas ainda estavam disponíveis e quais estavam sendo escolhidas.
Não preciso nem dizer que o tumulto em volta do telão era grande.

Quando a escolha já havia passado do 100º colocado a Luana, minha colega e também de São Luiz Gonzaga, veio correndo avisar que as quatro vagas para São Borja ainda estavam lá.
A notícia era excelente, mas eu ainda deveria torcer para que pelo menos uma restasse até chegar minha vez.

Comecei a acompanhar o telão mais seguidamente.
O processo de escolha continuava e logo uma das vagas de São Borja sumiu. Restavam três.

Como a Luana também tinha interessa em uma das vagas em São Borja, a margem de possibilidade continuava pequena.
Logo entrei na fila, aguardando a chamada para o Salão principal. Já não enxergava o telão e ficava mais ansioso.

Depois de mais um tempo fui chamado ao Salão principal com mais nove colegas.
Havia mais de cem colegas sentados, esperando chegar sua vez de escolher.

Ainda pude ver a Luana escolher uma das vagas em São Borja. Restavam duas vagas e quase cem colegas pra escolher. O negócio era torcer.
Logo uma menina que eu não conhecia escolheu uma das vagas em São Borja. Restava uma.

O telão do salão principal mostrava as vagas da seguinte forma: havia dois grandes quadros, um com as vagas do interior (DPI) e outro com as vagas da região metropolitana (DPM), mas não apareciam de forma concomitante. O quadro do DPI aparecia primeiro, com o quadro do DPM logo abaixo. A separação era feita por uma barra de rolagem.
Os colegas iam escolhendo, minha vez se aproximava e a vaga em São Borja ainda estava ali.

Quando chegou minha vez, quase pulava de alegria. Havia conseguido a vaga em São Borja, 100 km de casa.
Para alguns, a classificação final não fez diferença, já que, apesar de ficarem entre os últimos, conseguiram os lugarem que queriam inicialmente.
Depois disso, era hora de pegar o oficio de apresentação, a carteira funcional, o certificado de conclusão do curso, a arma, as algemas e o colete.

Era hora de voltar pra casa, aproveitar o feriado do dia 20 de setembro e apresentar-me na Delegacia de Polícia somente no outro dia.
Tudo havia saído melhor do que eu imaginava.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Posse dia 19 de setembro


Todos nós, Gaúchos, sabemos o significado do dia 20 de setembro.
Isso é exaltado ano após ano. E é louvável.

Fortalece nossos laços.
Mas a partir desse ano, o dia 20 terá um significado mais que especial.
Até o dia 19 de setembro nós temos a faculdade de agir quando nos depararmos com alguma injustiça.

Do dia 20 em diante teremos o DEVER!

Travaremos nossas próprias "revoluções" em defesa daqueles que penam sob injustiças.
Para amparar aqueles que são acometidos pelas mais terríveis atrocidades perpetradas por seus semelhantes.

Para defender a integridade moral não só em nossa vida profissional. Afinal, devemos dar exemplo de retidão e honestidade.

Assim como nossos antepassados fizeram, teremos o dever de defender a Liberdade, a Igualdade e a Humanidade.

Travaremos quantas batalhas forem necessárias para lutar, acima de tudo, por JUSTIÇA!

O discurso


Boa tarde!
Primeiramente, cumprimentamos o Excelentíssimo senhor, Governador do Estado, Tarso Genro, bem como todas as autoridades já nominadas pelo protocolo.

É com indescritível felicidade que estamos aqui hoje.
Conforme muito bem mencionado por Luis Fernando Veríssimo, “O passado é prologo. Certos acontecimentos dão força a essa frase. Transforma tudo que veio antes em preliminar, em mero antecedente, ou, para usar outro termo literário, em prefácio. Você se da conta de que tudo que houve até ali, toda uma vida, toda uma história, foi simplesmente preparação para aquele certo momento, depois do qual, nada será como era. E o passado ganha uma lógica que não tinha. Você passa a entender tudo em retrospecto. Tudo tinha um sentido, em que você apenas não percebera, na falta do momento maximo”.

Para alguns, esse é o momento mais esperado dos últimos oito meses. Para nós, colegas, esse é o momento mais esperado de uma vida inteira.  
Cada um chegou até aqui por uma razão diferente, mas certamente com a mesma imensa vontade.

Foi essa vontade de chegar até aqui que nos motivou para inscrição no concurso, para os estudos para a prova teórica e para os estafantes treinamentos para o teste físico.
Foi essa vontade que nos fez continuar acreditando mesmo durante a angústia da espera da convocação. Que nos tranqüilizou no momento de nos adaptarmos à nova rotina - e, para muitos, à nova cidade.

Que nos deu coragem para enfrentar o medo diante da incerteza da nossa futura morada e que, principalmente, nos deu forças para enfrentar as inúmeras adversidades.
Quem não sentiu dificuldade com os 5km? O calor intenso? Alguns ainda tiveram que superar lesões e fraturas. Mas superamos tudos isso. Era necessário para estarmos aqui hoje!

E os sábados cheios de provas? As madrugadas de estudo e os turnos integrais de aula? A sufocante saudade dos familiares e dos amigos?
Eles, que, com uma paciência infindável, nos incentivaram, compreenderam nossa ausência, nosso cansaço, nossa preocupação, nossa angústia, e permaneceram ao nosso lado, com um sorriso, um abraço e uma palavra de apoio.

Eles que, muitas vezes, não entenderam a nossa escolha, mas a respeitaram. Eles que talvez nos consideraram insanos por optar por uma das profissões mais difíceis do mundo, na qual colocamos nossa vida à prova diariamente e precisamos estar a todo tempo tecnicamente preparados, pois nossos atos necessitam combinar rapidez com precisão, e não nos é permitido errar.

Nesse aspecto, há que se mencionar o excelente trabalho dos professores na troca de conhecimento, no relato de experiências e por todo o companheirismo nesse período.
Colegas, cada um aqui superou seus limites, fomos muito além do que um dia imaginamos.

Mas só conseguimos porque apoiamos uns aos outros, porque criamos amigos que levaremos para a vida inteira.
Ainda que tenhamos muitas lembranças, com certeza a mais marcante que vamos levar para todo sempre, será a união que nos fez, dia após dia, AMIGOS. Eu disse AMIGOS, porque não fomos simplesmente colegas, fomos MAIS! Fomos além do coleguismo.  Fomos e somos AMIGOS!

Sociedade gaúcha, tenho orgulho de hoje poder afirmar que 772 novos policiais, honrarão o Estado democrático de direito, atuando na mais estrita legalidade em defesa do povo gaúcho.
E estaremos sempre prontos, para SERVIR e PROTEGER.

A formatura


A formatura, sem dúvida, foi o momento máximo desde o início do concurso.
Não há como descrever.
Chegamos, minha família e eu, com duas horas de antecedência.

Não, não era impaciência minha. Solicitaram que chegássemos esse horário.
Logo vi colegas, conhecidos, amigos, e tiramos muitas, mas muitas fotos (volta e meia aparece uma nova no Facebook).

Logo fomos para nossos lugares na concentração, enfileirados, agrupados por ordem crescente de turmas.

Por volta de 15h30min começamos a entrar no salão principal.

O público do auditório nos aguardava em pé.
Cada um procurando seus conhecidos para mais uma foto, para mais um cumprimento.

E assim nos deslocamos até o palco, para nossos lugares.
Apesar do ensaio, algumas mudanças nos lugares, mas nada de mais.

Eu estava tenso, nervoso.
Nada demasiado, mas sabia que carregava uma responsabilidade muito grande.

Alguns colegas me perguntavam se eu estava tranqüilo para o discurso.
Em nenhum momento menti. Disse que sim, estava nervoso, mas que era normal, sempre fico assim, apesar de ter certa familiaridade com palcos.

A cerimônia seguiu normalmente. Até que chegou o momento. O meu momento particular em meio ao momento de cada um dos formandos.
Desloquei-me até o púlpito sob aplausos.

Após os cumprimentos devidos, dei início ao tão esperado discurso.
Falei pausadamente, dando a ênfase que cada palavra ou frase merecia.

O silencio geral mostrava que as pessoas gostavam do que ouviam e se concentravam a espera do próximo parágrafo.
Tentei manter um contato visual com o público, apesar da concentração.

Fiquei tão concentrado que, apesar de todo o esforço, não consigo lembrar algumas coisas.
Dei entonação especial ao parágrafo final. Forte e incisivo.

Após o “muito obrigado”, o auditório explodiu em aplausos. Foi muito bom.
Impossível descrever minha felicidade ao voltar para o meu lugar e ver vários colegas chorando, me cumprimentando, agradecendo tudo que eu havia dito.

Senti que havia atingido o objetivo.
Para complementar, nos discurso das autoridades, recebi elogios diretos.

Primeiramente, o Secretário de Segurança Pública me elogiou, fazendo menção direta ao meu nome. Disse ainda que, como havia mencionado anteriormente o Diretor da Acadepol, essa realmente era uma grande turma de formandos, a julgar pelo Orador. O Orador, segundo ele, era a síntese da capacidade dos formandos e que a ênfase dada no final do discurso, demonstrava a imensa vontade em fazer a diferença.
Fiquei anestesiado.

Logo após, o Governador do Estado, referindo-se a mim apenas como “o Orador”, mencionou partes do texto, segundo ele, muito bem colocadas, a respeito do Estado Democrático de Direito, e guiou seu discurso nessa linha de pensamento.
Era realmente um acolhimento muitíssimo maior do que eu imaginava.

Terminada a cerimônia, vários colegas vieram me cumprimentar e agradecer. Pessoas com as quais eu nunca havia conversado. Parentes dos formandos, da mesma forma, me parabenizavam.
Certamente, nunca havia recebido tantos parabéns nem tantos elogios como naquele momento.
Os dias que se seguiram também foram de agradecimentos.

Vi fotos da formatura sendo compartilhadas com trechos do discurso. Colegas me adicionando para agradecer. Agradecimentos colocados no grupo privado do Facebook, entre outras tantas.
A missão havia sido cumprida.



 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O ensaio


A ficha não havia caído até aquele momento.

Durante a semana, vi vários colegas postando e comentando quanto às expectativas da formatura. Do frio na barriga e tudo mais que um momento como esse proporciona.

Mas e eu?

Eu estava tranqüilo. Com as preocupações normais, sim, mas só.

Sexta-feira tínhamos as fotos pela manhã. Foi bom rever os amigos.

À tarde fomos para o ensaio na PUC. Só então me dei conta do que realmente estava acontecendo.

Ao ver mais de setecentas cadeiras perfiladas no palco, mil e quinhentas cadeiras (no mínimo) no auditório, mais outras tantas em um ambiente externo, a mesa das autoridades e o brasão da Polícia Civil estampado em diversos lugares, aconteceu o que deveria acontecer: a ficha caiu!

Percebi o púlpito bem a frente do palco. Não era onde eu o havia imaginado. Pensei que teria a possibilidade de olhar para os colegas enquanto discursava. Essa posição me deixaria de costas para eles e eu teria de me puxar pra que tudo saísse como eu gostaria.

Percebi o espanto de alguns ao ficarem sabendo que eu seria o orador. Até imagino o que passou pela cabeça deles, mas deixa pra lá.

O texto do discurso não foi elaborado somente por mim. Muitos colegas colaboraram. Eu apenas organizei um pouco as ideias para deixá-lo coeso e expressar o sentimento de cada um.

Não falaria apenas por mim. Não falaria pela minha turma. Falaria por vinte e uma turmas, 772 pessoas. Se colocasse apenas o que eu vi da Academia, inevitavelmente não abarcaria o sentimento comum. O auxílio de outros colegas na elaboração, com diferentes pontos de vista, faria com que cada um dos formandos se identificasse, pelo menos um pouco, com o texto.

Sim, eu queria emocioná-los!

No ensaio, fui chamado para ler o discurso e informado de que disporia de três minutos. Como assim? Ler o discurso? Três minutos? Argumentei dizendo que gostaria que fosse surpresa para todos e que haviam dito que eu teria em torno de cinco minutos.

Nosso diálogo se estendeu brevemente e, após uma breve negociação, consegui uma cópia e entreguei à pessoa que exigia conhecer o texto previamente e tudo seguiu como deveria.

Foram exigidas algumas pequenas alterações, nada estrutural.

O stress emocional apenas começava.

E ainda nem era o grande dia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Iniciando as atividades no blog


Este é um momento muito importante.
Muitas dúvidas, poucas certezas.
A certeza? Sim, serei Policial.
Mas como será a vida policial? Em que cidade vou trabalhar? Como serão meus colegas?
Prevendo uma série de vivências novas, decidi criar o blog.
Pretendo atualizá-lo constantemente, relatando os acontecimentos diários na vida profissional.
Mas certamente outros relatos virão.
A iminente troca de cidade e afastamento da família, namorada, amigos, serão tema constante.
Muitos desafios.
O próprio Blog será um desafio.
Escrever frequentemente não deve ser fácil.
Espero muitas histórias.
E somente boas histórias!