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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Terá sido só coincidência?


O dia começou corrido.
Tínhamos cinco mandados para cumprirmos em apenas três equipes.

Os dois mandados de busca e apreensão de ontem eram relacionados aos de hoje.
Foram cumpridos ontem exatamente para que não tivéssemos mais trabalho hoje, precisando de mais gente.

Minha equipe foi formada por meu colega e eu.
E só.

Fomos até a residência, em um beco.
Esqueci de mencionar ontem o fato de já chegar usando luvas cirúrgicas para cumprir o mandado.

Casa fechada e sem movimento.
Armas coldreadas.

Batemos na porta.
Nada.

Batemos na porta e falamos que éramos da Polícia.
Nada.

Meu colega forçou levemente a porta e ela abriu.
Sacamos as armas.

Ele entrou e eu fui logo atrás.
Uma mulher saiu de um cômodo dos fundos falando que se vestiria e iria nos receber.

Perguntamos a ela se havia mais alguém na casa e ela disse que não.
Logicamente isso deve ser confirmado.

Foi então que utilizei as técnicas de fatiamento, aprendidas na Academia.
A arma passa a ser um terceiro olho.

Os outros cômodos, que não eram muitos, foram checados dessa forma.
Nada.

Isso já diminui a tensão.
A mulher vestiu-se e veio falar conosco.

Mostramos o mandado e começamos a cumpri-lo.
De chegada, meu colega encontrou um objeto suspeito dentro de uma sacola, ao lado da geladeira.

Um bebê de pouco mais de um mês chorava enquanto fazíamos nosso trabalho e a mulher tentava acalmá-lo.
Fizemos tudo como já descrevi outras vezes.

Procuramos em todos os lugares.
Mas apreendemos apenas esse objeto que foi encontrado logo na chegada.

Papelada feita, tudo assinado, rumamos para o outro endereço cumprir mais um mandado.
Os outros colegas faziam o mesmo, cada equipe em uma casa diferente.

Chegamos ao outro endereço e, novamente, tudo fechado.
Bati na porta.

Nada.
Meu colega fazia a volta pelo lado, cuidando os fundos.

Bati de novo.
Um menino de uns sete anos atendeu.

Perguntamos se ele estava sozinho.
Ele disse que sim.

Dissemos que éramos da Polícia e pedimos para verificar se havia alguém ali.
Ele abriu a porta e nós entramos.

A casa era maior do que a outra onde havíamos estado.
Mais cômodos a serem fatiados.

Logo apareceu um rapaz, com cara de sono, perguntando o que estava ocorrendo.
Com a mão no cabo da pistola, que estava no coldre, solicitei que ele levantasse os braços e encostasse na parede.

Ele obedeceu.
Passei a revistá-lo, enquanto ele perguntava onde estava o “mandato”.

Respondi que logo mostraria.
Revista feita. Estava limpo.

Mostramos o mandado, ele leu e passou a nos acompanhar.
Novamente, buscas em todos os lugares.

Não encontramos o que procurávamos.
Alguns objetos foram fotografados, mas não apreendidos.

Voltamos para a Delegacia e fiquei encarregado de fazer os registros, mencionando as apreensões de hoje e do dia anterior.
Terminei no início da tarde, etiquetei e entreguei tudo.

Comecei a separar alguns procedimentos que haviam chegado até nossa Seção.
Tudo separado em duas vias, algumas peças xerocadas, e tudo organizado.

Uma pessoa que fora intimada compareceu.
Uma vítima.

Parei tudo e fui tomar o depoimento.
Antes de terminar, pedi para que ela nos auxiliasse, sendo testemunha de um reconhecimento direto.

Aliás, o primeiro que presenciei.
Cinco indivíduos segurando números em uma sala que era separada por um vidro espelhado da outra sala, onde vítimas e testemunhas fazem o reconhecimento.

Apesar de informarmos que não há possibilidade de o autor do fato ver quem está fazendo o reconhecimento, o reconhecedor sempre fica reticente.
Posição dos indivíduos fotografada e consignado qual número a vítima mencionou.

Logo, fomos solicitados para a condução de três presos até o presídio.
E já fiz uso do par de algemas de novo.

A técnica policial aconselha superioridade numérica sempre.
Chamei mais um colega para, ao menos, irmos em igualdade numérica.

Eles foram colocados no xadrez da viatura, sem contato conosco.
O fato de estarem algemados, sem contato conosco e o trajeto ser curto, diminuía, em tese (pois na prática tudo é em tese) o risco.

E tudo correu sem problemas.
Voltamos pra Delegacia e continuei organizando meus procedimentos.

Fiquei verificando cada um, para ver quais providencias tomar para elucidar a autoria.
Um deles me chamou a atenção.

Um roubo em que a vítima era um caminhoneiro.
Haviam levado dinheiro e os documentos do caminhão.

Olhei a relação de documentos.
A placa era familiar.

Os documentos também.

Pedi para que meu colega conferisse a placa dos documentos encontrados ontem durante o cumprimento de busca no final da tarde.
Aqueles mesmo que eu havia encontrado dentro da caixinha de luz.

Bingo!
Era a mesma!

Todos os documentos descritos haviam diso localizados em virtude de outro procedimento.

Senti uma satisfação tão grande que não consigo descrever.
O fato de encontrar os documentos ontem e ver o procedimento hoje pode ter sido só coincidência.

Mas é como um coroamento, pois não sosseguei ontem enquanto não encontrei nada de estranho.
Foi esse desassossego, essa intuição, sei lá, que me fez continuar procurando.

Talvez seja um aviso de que as coisas estão sendo feitas corretamente.

Ou talvez, foi só coincidência.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

E adivinha quem surge no cumprimento de mandado?


Muita chuva na cidade.
A noite foi preenchida com muita chuva e muito vento.

Contrariando todas as possibilidades da Lei de Murphy, na hora de sair para o trabalho, ela cessou.
Logo depois da chegada, fomos conduzir um preso em flagrante até o presídio.

Enquanto o preso colocava os cadarços e a cinta, dei de mão no meu par de algemas.
Ainda não havia usado as algemas, nem sabia se era boa ou não.

A chave, por enquanto, carrego na carteira, dentro do lugar das moedas.
Está sempre comigo e não corro tanto risco de perder.

Após o preso ter juntado todos os seus pertences, pedi que ele virasse de costas.
Algemação sempre para trás, isso foi muito frisado na Academia.

Eu estava sozinho, mas não houve problemas.
Conduzi o preso até a porta, enquanto meu colega manobrava a viatura.

Aproveitei para puxar assunto.
Perguntei nome,  que horas tinha sido “a bronca”.

Não há motivos para animosidades.
Certamente iremos prender as mesmas pessoas mais de uma vez.

Uma relação de, pelo menos, respeito, pode ser a diferença entre, futuramente, fazer força ou não.
Como da última vez, sentei atrás, do lado do indivíduo.

Conduzimos o preso até o presídio.
Pegamos o recebido no ofício de encaminhamento e voltamos para a Delegacia.

De chegada, fiz minha solicitação para ausentar-me da cidade no feriado de sexta-feira e no fim de semana.
Nem todos os Delegados exigem isso, mas é costume por aqui, mesmo em dias de folga.

Podemos ser acionados a qualquer momento, por um motivo ou outro.
Então, pelo menos deixamos avisado onde estamos e como podemos ser contatados.

Depois, preenchi uma tabela com as horas extras do mês para mandar para a Regional.
Realizei 17 horas extras.

Durante a tarde, fomos entre quatro colegas cumprir um mandado de prisão.
Fomos alertados de que o indivíduo possuía uma arma de fogo.

Chegamos na casa, cercamos e batemos na porta.
Um senhor nos avisou que o rapaz já havia sido preso.

Ligamos para o presídio e confirmamos a informação.
Voltamos pra Delegacia.

Meu colega e eu começamos a organizar os procedimentos que estavam sobre a mesa.
Alguns dias fora desorganizam tudo.

Mais procedimentos chegam e misturam-se àqueles que já estavam mais ou menos encaminhados por ali.
Nossa tarefa foi interrompida por uma pessoa que queria dar algumas informações.

Logo no início da conversa percebi que minha presença estava causando certo receio à pessoa e me retirei da sala.
Informantes criam afinidades com alguns policiais e, muitas vezes, não se abrem com outros colegas.

A conversa durou bastante tempo e eu fiquei meio perdido por ali, entre uma sala e outra.
Depois de tudo isso, fomos avisados sobre o cumprimento de dois mandados.

Se cumpríssemos logo, poderíamos encontrar alguma coisa, já que raramente cumprimos mandados no período da tarde.
Fomos entre quatro colegas em um endereço, enquanto outros três colegas foram em outro.

Estacionamos na contramão e eu fui um dos primeiros a descer.
Quando vi, estava entrando no pátio da residência na frente dos colegas.

Não foi combinado, mas foi o que a situação apresentou.
Dei uma segurada, para que os colegas se aproximassem, e passei a determinar, para as pessoas que iam aparecendo, que levantassem as mãos.

O lugar era muito pobre.
Aparentemente, coletam lixo, materiais recicláveis e todo tipo de bugiganga que encontram.

Havia muito lixo espalhado por todos os lugares.
Bicicletas desmontadas, geladeiras velhas, potes, latinhas, garrafas, telhas, entre outras tantas coisas.

Outro colega revistou um rapaz que apareceu dos fundos e tirou uma faca que ele trazia na cintura.
Quando tiramos as pessoas da casa, uma pancada de chuva começou.

Casa pequena, com os moradores, mais nós, Policiais, não era uma boa idéia.
Pedi que se aproximassem da casa, para escaparem da chuva.

Alguns entraram, outros ficaram lá fora, mas tudo tranqüilo.
A casa era de madeira e chão batido.

Uma cozinha, com um fogão a lenha sem cano, esfumaçava o ambiente.
Dei uma vasculhada na sala.

Muitos papelotes de alumínio espalhados pelo chão. Todos vazios.
Logo, dois cachimbos feitos de cano de PVC apareceram.

Mas nada de drogas.
A chuva havia cessado.

Saí da casa e comecei a procurar no meio do lixo que estava do lado de fora.
Vasculhando cada objeto que pudesse esconder alguma coisa.

Acabei encontrando uns documentos de um veículo dentro da caixinha de luz.
O motivo de estar ali eu não sei.

Após muitos procurar, voltei para dentro da casa e comecei a ajudar na busca dentro do quarto.
A quantidade de coisas no pequeno espaço dificultava bastante.

Um quarto sem janelas, aliado à fumaça, e o próprio cheiro do lugar, tornava um desafio estar ali por muito tempo.
Abri a geladeira, que ficava no mesmo cômodo, e o cheiro colocou meu estômago à prova.

Enquanto estávamos, uma colega e eu, no quarto, realizando as buscas, quem aparece?
Quem?

O gato preto!
Não o mesmo daquele dia, claro, mas outro gato preto.

Não contive o riso na hora ao lembrar do outro post sobre o gato preto.
Feita a busca na casa, saí para o pátio.

Um colega cuidava dos moradores, enquanto os outros olhavam no meio do entulho.
Terminamos as buscas sem encontrar drogas, apenas indícios de consumo no local.

Acabamos chegando na Delegacia depois das 18h.
Hoje, o gato preto não deu sorte nem azar pra ninguém.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mais uma semana e o relatório das atividades no interior


E a semana se inicia ao mesmo tempo em que termina meu sobreaviso.
Terminado às 08h30min, com a entrada dos próximos colegas da escala.

Não fui acionado uma única vez.
Talvez sorte, talvez a chuva dos últimos dias tenha arrefecido o ânimo de quem cometeria alguma coisa.

Fiquei sem meu parceiro de equipe pela manhã.
Como eu mencionei em outros textos, fico meio perdido, na espera de alguém que me determine o que fazer.

Mas como na Polícia só fica fazendo nada quem quer, logo achei onde ser útil.
Pediram um voluntário na condução de um preso em flagrante até o presídio.

Prontifiquei-me. Mas eu iria mesmo que não me prontificasse.
Fui com outro colega, mais antigo.

Levamos o preso no banco de trás e eu fui sentado do lado, logo atrás do banco do motorista.
Condução tranqüila. Acho que já estou me acostumando.

Quando voltamos pra Delegacia, pegamos vários objetos apreendidos na semana passada para levarmos até o depósito.
Tudo etiquetado e separado.

Ainda de manhã, prontifiquei-me para elaborar o relatório sobre os dias trabalhados no interior.
Terminei o relatório no fim da tarde.

Sete páginas.
Um trabalho como o da semana passado exigia um relatório à altura e eu fiz o melhor que pude.

Deixei o relatório extremamente esmiuçado, contando todas as informações que havíamos colhido formal e informalmente.
Sim, informalmente.

Muitas coisas vêm até nós numa conversa descompromissada.
Por vezes as pessoas temem colocar algo no papel e se responsabilizarem por aquilo ou uma informação simplesmente escapa durante uma conversa.

E há informações extremamente relevantes na informalidade.
Mas elas devem ser utilizadas dentro de um contexto, somadas a outras evidências.

Uma simples alegação, separada de todas as outras, não tem validade.
Aos olhos do Judiciário, é praticamente uma fofoca trazida pela Polícia.

Por isso a importância de buscarem-se mais elementos para embasar esse tipo de informação.
E havia muita informação, difícil até de deixar tudo de forma clara e concisa.

Terminado o relatório, passei para que os colegas mais velhos corrigissem.
Não houve alterações, apenas acréscimos.

Passei a tarde envolvido com isso.
Terminado, assinado e remetido ao Delegado.

Quando remetemos um relatório ao Delegado, sugerimos algumas providências.
Cabe a ele, entendendo da mesma forma, dar o cumpra-se.

Agora, é esperar pra ver.
Antes de terminar, gostaria de, mais uma vez, agradecer aos leitores do Blog.

Passamos de 6 mil visualizações em pouco mais de um mês, muito além do que eu imaginava.

Isso mostra a fidelidade com que vocês tem entrado e participado ativamente do Blog.

Continuem comentando, continuem acompanhando.

É isso que me motiva a continuar trabalhando mais e melhor, para ter o que contar a vocês.

Estou buscando junto a vários colegas mais textos, mais opiniões, para trazer a vocês.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Amigos de MG, eu também sou um excedente!


Em um comentário essa semana, um amigo leitor me pediu que desse um incentivo aos excedentes do estado de Minas Gerais.
Primeiramente fiquei feliz ao ver o quão longe o Blog está chegando.

Em segundo lugar, entendi perfeitamente a angústia de vocês.
Eu sei o que sentem.

Eu fui um excedente!
Quer dizer, mais ou menos.

Não sei exatamente o que se passa por aí.
Tentei dar uma pesquisada na internet para direcionar um pouco mais o texto, mas fiquei na dúvida se são Agentes ou Delegados.

Também não sei em que circunstâncias estão, mas tentarei motivá-los.
Todas as fases do nosso concurso terminaram em março de 2011 e nós esperávamos a Academia já para o mês de abril ou maio do mesmo ano.

O edital dispunha de 500 vagas, sendo 250 para Inspetores e 250 para Escrivães.
Éramos 800 e tantos aprovados.

Eu estava na 320ª posição e, portanto, fora das vagas.
O boato era de que todos seriam chamados, mas nada concreto.

Nesse momento, há um turbilhão de informações.
Todo mundo tem alguma informação, quente de dentro da cúpula.

E nós nos agarrávamos a isso, qualquer cisco de informação favorável nos enchia de esperança.
Os dias foram passando e nada, nem convocação, nem notícia sobre se todos seriam chamados ou não.

Eu havia me formado e estava há quase um ano e meio em casa, só estudando.
O concurso significava minha independência, mas nada acontecia.

Logo dei jeito de arrumar um emprego enquanto esperava a convocação.
Os dias de espera logo se tornaram meses.

Organizou-se um movimento dos aprovados que exigia ao mesmo tempo o início do Curso de Formação e a convocação de todos os aprovados, independente do número de vagas.
O ano de 2011 já terminava quando vieram as notícias de que a convocação sairia em Janeiro de 2012.

E a convocação realmente saiu em Janeiro.
No entanto, contavam apenas os 250 aprovados em cada cargo.

Havia notícias de que havia vários aprovados nos dois cargos e que, portanto, haveriam mais chamadas para completar as 250 vagas.
Essa era a minha esperança!

Eu acreditava cegamente que seria chamado.
Avisei na empresa onde eu trabalhava que a convocação havia começado e que existia grande possibilidade de eu ser chamado.

Continuei trabalhando e outra pessoa foi contratada para o meu lugar.
Me substituiria assim que eu saísse.

E eu sairia da empresa mesmo que não fosse convocado.
Logo saiu a segunda convocação e, para o meu desespero, a chamada ocorreu até a 319ª posição.

Não, não é brincadeira, não é história. É verdade.
Eu havia ficado na divisa entre aqueles que concretizavam o sonho e aqueles que iriam esperar.

Nesse período, notícias já davam conta de que os excedentes seriam chamados em Março de 2012.

Mas eu queria ir logo, queria terminar com essa angústia.
Fiquei com medo que não houvesse mais uma chamada.

Mas logo saiu a terceira chamada.
Pulei da cadeira quando vi a convocação com o meu nome.

Era uma alegria indescritível.
Apenas seis foram chamados para completar as vagas e eu encabeçava a lista.

Os aprovados excedentes realmente foram chamados em Março e se formaram conosco, no mesmo dia.
Mas houve muita luta, muito empenho, manifestações (todas pacíficas) e muita pressão também.

O Movimento dos Aprovados tornou-se conhecido.
Alguns colegas que já haviam sido chamados continuaram a lutar por aqueles que ainda esperavam.

Essa união tornou o movimento forte.
Por isso, mesmo não sabendo exatamente a situação pela qual passam, só tenho a dizer que não percam a esperança, mas, principalmente, que lutem.

Não esperam que as coisas aconteçam.
Façam acontecer!

 

 

O interrogatório mais difícil até aqui.


Fim de semana chegando.
A semana passou voando, quase não parei.

Estou passando intacto pelo sobreaviso.
Ainda não fui acionado.

Talvez ele tenha me reservado algo para o fim de semana, quem sabe.
Pior de tudo é que acabo ficando empenhado, pois tenho de ficar na cidade.

Não poderei ir pra casa nesse fim de semana.
Hoje pela manhã fiquei às voltas para registrar ocorrência informando os objetos apreendidos ontem.

Depois etiquetar e entregar na Secretaria.
Isso deve ser feito sempre o quanto antes, pois nos exime de responsabilidade.

Enquanto estivermos com algo, somos responsáveis.
Depois de tudo lançado, etiquetado e entregue, uma preocupação a menos.

Acabei ficando um pouco no Plantão, substituindo colegas que foram conduzir um preso até o presídio.
No turno da tarde, participei do interrogatório mais difícil, demorado e detalhado desde que entrei em exercício.

Teve duração de mais ou menos três horas.
Ainda relacionado com os eventos investigados nessa semana.

Não fiz isso sozinho, claro, mas participei ativamente.
Havia muitos fatos a serem questionados, muitos detalhes.

Todos os tópicos foram respondidos, se a contento ou não, aí é outra história.
Algumas coisas evidenciaram, a meu modo de ver, um claro nervosismo.
O suor escorrendo do rosto do interrogado.
O cruzar de pernas incessante.
Os objetos da mesa que eram constantemente remexidos.
A oscilação da voz.
Enfim, vários elementos.
Mas nervosismo nem sempre que dizer que se está mentindo.
O ambiente policial, a situação toda, causa esse tipo de reação.
Pelo menos ele manteve a calma, pois achei que teríamos algum problema com isso.
Prevejo um grande caso, com muito a ser investigado ainda.

Depois disso, um passeio com o interrogado, para que ele nos mostrasse alguns lugares que havia mencionado.
Lugares identificados e fotografados.

Agora é por nossa conta.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Investigação no interior


Três dias puxados!
Três dias trabalhando no interior, em uma Fazenda enorme.

Fomos comunicados sobre possíveis irregularidades e nos deslocamos até lá.
Saímos muito cedo na terça-feira, por volta das 06h.

Nossa chegada causou certo estremecimento nas pessoas que estavam na propriedade.
Todos ficaram estranhando o fato de chegarmos cedo e, ao que parece, não entendiam o que fazíamos lá.

Acompanhamos a contagem dos animais enquanto conversávamos com os funcionários, colhendo informações.
Tudo de forma discreta, entre conversas sobre a lida de campo, um “causo” e outro, fazíamos pequenos questionamentos.

Não demorou para algumas coisas começarem a aparecer.
No turno da tarde, um colega e eu começamos a chamar cada um dos funcionários separadamente para prestarem depoimento.

Tudo feito na Fazenda, utilizando um notebook.
Acho que foi onde pude utilizar de forma mais concentrada as técnicas aprendidas na Academia.

Há todo um jogo na hora de fazer as perguntas.
Eu fazia várias perguntas sobre determinados assuntos, desde trabalhos rurais até o relacionamento entre os funcionários, e, no meio, fazia a pergunta que eu realmente queria a resposta.

É um jogo interessante.
Tomei esse cuidado pelo fato de que, se deixasse claro aquilo que eu realmente queria saber, corria o risco de que isso fosse omitido, por qualquer motivo.

Percebi que alguns, por medo ou qualquer outro motivo, davam respostas genéricas, não entravam em detalhes.
As vezes, advertíamos novamente sobre o compromisso em dizer a verdade e a possibilidade de responderem por falso testemunho.

Claro que essas advertências eram feitas com jeito, num tom de conselho, pois não se pode amedrontá-los a ponto de não conseguir mais nada.
Os outros colegas seguiam em outros afazeres colhendo informações.

De vez em quando, comentávamos uns com os outros aquilo que já havíamos colhido, para que todos estivessem a par de tudo o que acontecia.
Nesse primeiro dia saímos da Fazenda por volta das 21h.

Trabalhamos direto, com uma pequena pausa para o almoço.
O segundo dia, na quarta-feira, também começou cedo.

Continuamos a colher depoimentos e informações.
Hoje, fomos um pouco mais tarde para a Fazenda.

Não havia muito a ser feito.
Tínhamos que pegar as assinaturas das pessoas ouvidas na Fazenda.

Tivemos que imprimir os termos na Delegacia, pois a impressora da Fazenda não funcionou.
Chamamos novamente um a um, foi lido o termo de declarações, para mostrar que não havia sido alterado, e colhida a assinatura.

Aluns colegas passaram a noite na Fazenda, para evitar qualquer incidente.

O final do dia de hoje foi um pouco mais tenso.
Um pequeno desentendimento entre funcionários.

Nada que precisasse nossa intervenção.
Mas provavelmente não precisou nossa intervenção pelo fato de estarmos lá.

Se não estivéssemos...
Esse fato já demonstrou o quanto nossa presença a nível de campo foi importante.

Nada foi concluído.
A investigação segue.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Tenho uma arma e agora?

Fui perguntado hoje, em um comentário, sobre o porte da arma de fogo.

Achei interessante e, diante da falta do post com as atividades de hoje, resolvi escrever sobre isso.

Essa era uma das principais dúvidas que eu tinha quando estava na Academia de Polícia.
Pensava que não me acostumaria com o fato de andar armado.

Pensava na melhor forma de andar discreto, para que ninguém percebesse que eu usava uma arma.
Alguns colegas até cogitavam a possibilidade de não andarem armados em determinados momentos.

Eu perguntava para colegas que já eram policiais militares, ou para outros que tinham porte de arma, sobre o modo mais discreto.
Cada um tinha uma dica diferente.

Não há uma fórmula certa ou errada

Existe aquela que você se adapta melhor.
Antes de ganhar a pistola, comprei um coldre interno, feito de um tecido macio (sinceramente não sei o nome do tecido).

Quando peguei a pistola fornecida pela academia, imediatamente usei esse coldre posicionado com a arma bem no meio das costas.
Uma camisa ou uma camiseta um pouco mais larga e ficava quase imperceptível.

Com um casaco então, perfeito!
Uns dias depois, pensei na possibilidade de ter que usar a arma em uma situação de emergência e experimentei um saque rápido.

Rápido? Não consegui de jeito nenhum!
Então, eu tinha um problema!

Conseguia ser discreto, mas não tinha poder rápido de reação.
Comecei a reposicionar, aproximando mais da lateral do corpo, ainda na cintura.

Também percebi que, no meu caso, ela fica melhor para saque se ficar levemente inclinada.
Desde então, uso sempre na lateral do corpo com coldre interno.

Fica um pouco perceptível, mas já entendi que não preciso esconder de ninguém que sou Policial.
Outra grande dúvida é: usar travada ou não?

Eu não uso travada.
Munição na câmara e pistola destravada, sempre pronta.

O que se tem que ter em mente é que uma arma somente deve ser utilizada em situação extremas, como último recurso.
Se esse é seu último recurso e estás fazendo uso dele, provavelmente os outros falharam

Se todos os outros falharam, não podemos nos dar ao luxo de ter uma arma travada ou sem alimentação.
Talvez não haja tempo para solucionar isso e colocá-la em ação.

Mas, como eu disse, depende da adaptação de cada um.
Tenho usado ela sempre assim, em casa ou no trabalho.

Há colegas que não deixam munição na câmara em casa, ou a deixam travada.
Não tenho filhos, então não sei como agir nesses casos.

Sei que essa é uma grande dúvida das mulheres.
Mulheres sentem mais dificuldades principalmente pelo fato de roupas femininas não conseguirem acomodar uma arma de forma discreta.

Tentarei conseguir algumas dicas com colegas mulheres sobre como usar a arma e passarei para vocês.

Um pedido de desculpas


O movimento no Blog aumentou nos últimos dias.
Isso faz com que meu compromisso com vocês se torne mais forte.

Me sinto na obrigação de escrever.
Hoje, escrevo apenas para justificar a falta de postagem ontem e a do dia de hoje.

Ontem trabalhei mais de 14 horas seguidas, com uma pequena pausa para o almoço.
Hoje o dia também foi corrido, mas só poderei dar mais detalhes amanhã, quando, em tese, encerraremos a tarefa que tem nos ocupado todo esse tempo;

Não achei justo ficar dois dias sem escrever, deixando vocês, queridos amigos e leitores, sem uma justificativa.
Peço desculpas pela falta de postagens, mas realmente não posso descrever por enquanto.

Tenho recebido muitas perguntas através de comentários e tenho respondido todas, acredito que a contento.
Sigam acompanhando, perguntando, criticando ou elogiando.

Quero que o Blog sirva exatamente como uma ferramenta para auxiliá-los em tudo o que estiver ao meu alcance.
Abraço a todos!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Semana de sobreaviso


Inicia-se uma nova semana.
Nessa, há uma novidade: estou de sobreaviso!

E o que é o sobreaviso?
Resumidamente, significa que em horários fora do expediente, eu posso ser chamado pra atender crimes graves ou fazer conduções de preso.

E isso pode ser a qualquer hora da noite.
Assim que for contatado, devo comparecer o mais rápido possível no local do fato.

Ficamos em três e nosso sobreaviso dura uma semana.
Há um rodízio, de forma que, após o término, na segunda-feira que vem, demorará um mês e uma semana pra que eu entre em sobreaviso novamente.

Não tenho certeza, mas acredito que haja o sobreaviso pelo fato de não termos uma DPPA (Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento).
Mudando de assunto, tive que vir ontem a noite, de ônibus.

Pelo jeito, os atrasos já são costumeiros.
Ontem tive sorte, atrasou “apenas” meia hora.

Semana passada atrasou uma hora e meia.
Voltando à parte prática, hoje pela manhã fomos cumprir Ordens de Serviço.

Procuramos alguns veículos que devem ser apreendidos, mas não os encontramos.
À tarde, uma longa oitiva. Muito longa.

Também aprendi a oficiar os Órgãos competentes para quebra de sigilo telefônico.
Amanhã, acredito que terei mais novidades.

Ovelhas, Lobos e Cães Pastores

Gostaria de compartilhar com vocês um grande texto sobre nossa tarefa na sociedade.

Alguns talvez já tenham lido, outros não, então, deixo a disposição:



Autor: Dave Grossman, Ten Cel, Ranger, Ph.D., Autor de "On Killing"

Um veterano do Vietnã, um velho coronel da reserva, certa vez me disse: "A maioria das pessoas em nossa sociedade são ovelhas. Eles são criaturas produtivas, gentis, amáveis que só machucam umas às outras por acidente."

Isso é verdade. Lembre que a taxa de assassinatos é de 6 por 100.000, por ano, e taxa de agressões sérias é de 4 por 1000, por ano. O que isso significa é que a esmagadora maioria dos norte americanos não são inclinados a machucarem uns aos outros.

Algumas estimativas dizem que dois milhões de americanos são vítimas de crimes violentos todo ano. Um números trágico, assustador, talvez um recorde em matéria de crimes violentos. Mas existem quase 300 milhões de americanos, o que significa que as chances de ser vítima de um crime violento ainda é consideravelmente menor que uma em cem, em qualquer ano. Ainda, como muitos dos crimes violentos são praticados pelas mesmas pessoas, o número real de cidadãos violentos é consideravelmente menor que dois milhões.

Há um paradoxo aí, e devemos pegar ambos os lados da situação: Nós podemos estar vivendo a época mais violenta da história, mas a violência ainda é surpreendentemente rara. Isso é porque a maioria dos cidadãos são pessoas gentis e decentes que não são capazes de machucarem umas às outras, exceto por acidente ou sob provocação extrema. Elas são ovelhas.

Eu não quero dizer nada negativo quando as chamo de ovelhas. Para mim a situação é como a de um ovo de passarinho. Na parte de dentro ele é gosmento e macio, mas algum dia ele se transformará em algo maravilhoso. Mas o ovo não pode sobreviver sem sua casca dura. Policiais, soldados e outros guerreiros são como essa casca, e algum dia a civilização que eles protegem tornar-se-á algo maravilhoso. Por enquanto, eles precisam de guerreiros para protegê-los dos predadores.

"E então há os lobos", disse o velho veterano de guerra, "e os lobos alimentam-se das ovelhas sem perdão." Você acredita que há lobos lá fora que irão se alimentar do rebanho sem perdão? É bom que você acredite. Há homens perversos nesse mundo que são capazes de coisas perversas. NO INSTANTE EM QUE VOCÊ ESQUECE DISSO, OU FINGE QUE ISSO NÃO É VERDADE, VOCÊ SE TORNA UMA OVELHA. Não há segurança na negação.

"E então há os cães pastores", ele continuou, "e eu sou um cão pastor. Eu vivo para proteger o rebanho e confrontar o lobo."

Se você não tem capacidade para a violência, então você é um saudável e produtivo cidadão, uma ovelha. Se você tem capacidade para a violência e não tem empatia por seus concidadãos, então você é um sociopata agressivo, um lobo. Mas e se você tem capacidade para a violência e um amor profundo por seus conterrãneos? O que você tem então? Um cão pastor, um guerreiro, alguém que anda no caminho do herói. Alguém que pode entrar no coração da escuridão, dentro da fobia humana universal e sair de novo.

Deixe-me desenvolver o excelente modelo de ovelhas, lobos e cães daquele velho soldado. Nós sabemos que as ovelhas vivem em negação da realidade, e isso é o que as faz ovelhas. Elas não querem aceitar o fato de que há mal neste mundo. Elas podem aceitar o fato de que incêndios podem acontecer, e é por isso que elas querem extintores, sprinklers, alarmes e saídas de incêndio em tudo quanto é canto das escolas de seus filhos.

Mas muitas delas ficam ultrajadas diante da idéia de colocar um policial armado na escola de seus filhos. Nossos filhos são milhares de vezes mais suscetíveis a serem mortos ou seriamente feridos por violência escolar do que por fogo, mas a única resposta da ovelha para a possibilidade de violência é a negação. A idéia de que alguém venha matar ou ferir seus filhos é muito dura, então elas escolhem o caminho da negação.

As ovelhas geralmente não gostam dos cães pastores. Ele parece muito com o lobo. Ele tem dentes afiados e a capacidade para a violência. A diferença, no entando, é que o cão pastor não deve, não pode e não irá nunca machucar as ovelhas. Qualquer cão pastor que intencionalmente machuque a ovelhinha será punido e removido. O mundo não pode funcionar de outra maneira, pelo menos não em uma democracia representativa ou uma república como a nossa.

Ainda assim, o cão pastor incomoda a ovelha. Ele é uma lembrança constante que há lobos lá fora. As ovelhas prefeririam que ele não lhe dissesse para onde ir, não lhe desse multas e nem ficasse nos aeroportos, com roupas camufladas e segurando um M-16. As ovelhas prefeririam que o cão guardasse suas garras e dentes, se pintasse de branco e dissesse: "Béé"

Até que o lobo aparece. Aí o rebanho inteiro tenta desesperadamente esconder-se atrás de um único cão.

Os estudantes, as vítimas, na escola de Columbine eram adolescentes, grandes e durões. Sob circunstâncias ordinárias, elas nunca gastariam algum tempo de seu dia para dizer algo a um policial. Elas não eram crianças ruins, elas simplesmente não teriam nada a dizer a um policial. Quando a escola estava sob ataque, no entanto, e os times da SWAT estavam entrando nas salas e corredores, os policiais tinham praticamente que arrancar os adolescentes que se agarravam às suas pernas, chorando. É assim que as ovelhinhas se sentem quando a respeito de seus cães pastores quando o lobo está na porta.

Olhe o que aconteceu depois do 11 de setembro, quando o lobo bateu forte na porta. Lembram-se de como a América, mais do que nunca, sentiu-se diferente a respeito de seus policiais e militares? Lembram-se de quantas vezes ouviu-se a palavra "herói"?

Entendam que não há nada moralmente superior em ser um cão pastor; é apenas aquilo que você escolhe ser. Entendam ainda que um cão pastor é uma criatura esquisita. Ele está sempre farejando o perímetro, latindo para coisas que fazem barulho durante a noite, e esperando ansiosamente por uma batalha. Os cães jovens ansiam por uma batalha, é melhor dizer. Os cães velhos são mais espertos, mas ao ouvir o som das armas e perceberem que são necessários eles se movem imediatamente, junto com os jovens.

É aqui que as ovelhas e cães pensam diferente. A ovelha faz de conta que o lobo nunca virá, mas o cão vive por aquele dia. Depois dos ataques de 11 de setembro, a maior parte das ovelhas, isto é, a maioria dos cidadãos na América disse "Graças a Deus que eu não estava em um daqueles aviões". Os cães pastores, os guerreiros, disseram, "Meu Deus, eu gostaria de ter estado em um daqueles aviões. Talvez eu pudesse ter feito a diferença." Quando você está verdadeiramente transformado em um guerreiro, você quer estar lá. Você quer tentar fazer a diferença.

Não há nada de moralmente superior sobre o cão, o guerreiro, mas ele leva vantagem em uma coisa. Apenas uma. E essa vantagem é a de que ele é capaz de sobreviver em um ambiente ou situação que destrói 98% da população.

Houve uma pesquisa alguns anos atrás com indivíduos condenados por crimes violentos. Esses presos estavam encarcerados por sérios e predatórios atos de violência: Assaltos, assassinatos e assassinatos de policias. A GRANDE MAIORIA DISSE QUE ESCOLHIA SUAS VÍTIMAS PELA LINGUAGEM CORPORAL: ANDAR DESLEIXADO, COMPORTAMENTO PASSIVO E FALTA DE ATENÇÃO AO AMBIENTE. Eles escolhiam suas vítimas como os grandes felinos fazem na áfrica, quando eles selecionam aquele que parece menos capaz de se defender.

Algumas pessoas parecem destinadas a serem ovelhas e outras parecem ser geneticamente escolhidas para serem lobos ou cães. Mas eu acredito que a maior parte das pessoas pode escolher qual dos dois eles querem ser, e eu estou orgulhoso de dizer que mais e mais americanos estão escolhendo serem cães.

Sete meses depois do ataque de 11 de setembro, Todd Beamer foi homenageado em sua cidade natal, Cranbury, Nova Jersei. Todd, como vocês se lembram, era o homem no vôo 93, sobre a Pensilvânia, que ligou de seu celular para alertar um operador da United Airlines sobre o sequestro. Quando ele soube que outros três aviões haviam sido usados como armas, Todd largou o telefone e disse as palavras "Let's roll" o que as autoridades acreditam que tenha sido um sinal para os outros passageiros para confrontar os sequestradores. Em uma hora, uma transformação ocorreu entre os passageiros - atletas, homens de negócios e pais - de ovelhas para cães pastores e juntos eles combateram os lobos, salvando um número indeterminado de vidas no chão.

"Não há salvação para o homem honesto, a não ser esperar todo o mal possível dos homens ruins." - Edmund Burke

Aqui é o ponto que eu gosto de enfatizar, especialmente para os milhares de policiais e soldados para os quais falo todo ano. Na natureza, as ovelhas, as ovelhas de verdade, nascem assim. Cães nascem assim, bem como os lobos. Eles não têm uma chance. Mas você não é uma criatura. Você é um ser humano, e como tal pode ser o que quiser. É uma decisão moral consciente.

Se você quer ser uma ovelha, então você pode ser uma ovelha e está tudo bem, mas você deve entender o preço a pagar. Quando o lobo vier, você e as pessoas que você ama morrerão se não houver um policial por perto para protegê-lo. Se você quer ser um lobo, tudo bem, mas os pastores o caçarão e você não terá nunca descanso, segurança, confiança ou amor. Mas se você quiser ser um cão pastor andar no caminho do guerreiro, então você deve tomar uma decisão consciente DIÁRIA de dedicar-se, equipar-se e preparar-se para aquele momento tóxico, corrosivo, quando o lobo vem bater em sua porta.

Quantos policiais, por exemplo, levam armas para a igreja? Elas estão bem escondidas em coldres de tornozelo, coldres de ombro, dentro dos cintos ou nas costas. A qualquer hora em que você estiver no culto ou na missa, há uma boa chance que um policial na sua congregação esteja armado. Você nunca saberia se havia ou não um indivíduo assim em seu local de adoração, até que o lobo aparece para massacrar você e as pessoas que você ama.

Eu estava treinando um grupo de policiais no Texas e, durante o intervalo, um policial perguntou a seu amigo se ele levava a arma para a igreja. O outro respondeu "Eu nunca vou desarmado à igreja" Eu perguntei porque ele tinha uma opinião tão firme a esse respeito, e ele me contou a respeito de um policial que ele conhecia que estava em um massacre em uma igreja em Fort Worth, Texas, em 1999. Nesse incidente, uma pessoa desequilibrada mentalmente entrou na igreja e abriu fogo, matando quatorze pessoas. Ele disse que o policial acreditava que ele podia ter salvo todas as vidas naquele dia se ele estivesse carregando sua arma. Seu próprio filho foi atingido, e tudo o que ele pôde fazer foi atirar-se sobre o corpo do garoto e esperar a morte. Aquele policial me olhou nos olhos e disse "Você tem idéia do quão difícil é viver consigo mesmo depois disso?

Alguns ficariam horrorizados se soubessem que esse policial estava na igreja armado. Eles o chamariam de paranóico e provavelmente o admoestariam. Ainda assim, esses mesmo indivíduos ficariam enfurecidos e pediriam que "cabeças rolassem" se descobrissem os air bags de seus carros estavam defeituosos, ou que os extintor de incêndio nas escolas de seus filhos não funcionavam. Eles podem aceitar o fato que fogo e acidentes de trânsito podem acontecer e que devem haver medidas de segurança contra eles.

A única resposta deles ao lobo, no entanto, é a negação, e, frequentemente, sua única resposta ao cão pastor é a chacota e o desdém. Mas o cão pastor pergunta silenciosamente a si mesmo "Você tem idéia do quão duro seria viver consigo mesmo se seus entes queridos fossem atacados e mortos, e você ficasse ali impotente porque está despreparado para aquele dia?"

É a negação que transforma as pessoas em ovelhas. Ovelhas são psicologicamente destruídas pelo combate porque sua única defesa é a negação, que é contra produtiva e destrutiva, resultando em medo, impotência e horror, quando o lobo aparece.

A negação mata você duas vezes. Mata uma, no momento da verdade, quando você não está fisicamente preparado: você não trouxe sua arma, não treinou. Sua única defesa era o pensamento positivo. Esperança não é uma estratégia. A negação te mata uma segunda vez porque mesmo que você sobreviva fisicamente, você fica psicologicamente destroçado pelo seu medo, impotência e horror na hora da verdade.

Gavin de Becker coloca dessa maneira em "Fear Less", seu soberbo livro escrito após o 11/Set., leitura requerida para qualquer um tentando entender a atual situação global: "... a negação pode ser sedutora, mas ela tem um efeito colateral insidioso. Apesar de toda a paz de espírito que aqueles que negam a realidade supostamente alcançam por dizerem que as coisas não são tão sérias assim, a queda que eles sofrem quando ficam cara a cara com a violência é muito mais perturbadora."

A negação é uma situação de "poupe agora pague mais tarde", uma enganação, um contrato escrito só em letras miúdas. A longo prazo, a pessoa que nega acaba conhecendo a verdade em algum nível.

Assim, o guerreiro deve lutar para enfrentar a negação em todos os aspectos de sua vida, e preparar-se para o dia em que o mal chegará.

Se você é um guerreiro que é legalmente autorizado a carregar uma arma e você sai sem levar essa arma, então você se transforma em uma ovelha, fingindo que o homem mau não virá hoje. Ninguém pode estar ligado 24 horas por dia, 7 dias por semana, a vida inteira. Todos precisam de tempo de repouso. Mas se você está autorizado a portar uma arma e você sai sem ela, respire fundo e diga para si mesmo:

"BÉÉÉÉÉÉÉ..."

Essa história de ser uma ovelha ou um cão pastor não é uma questão de sim ou não. Não é um tudo ou nada. É uma questão de degraus, um continuum. De um lado está uma desprezível ovelha com a cabeça totalmente enfiada na terra, e no outro lado está o guerreiro completo. Poucas pessoas existem que estão completamente em um lado ou outro. A maioria de nós vive no meio termo. Desde 11 Set, quase todos na América deram um passo acima nesse continuum, distanciando-se da negação. A ovelha deu alguns passos na direção de aceitar e apreciar seus guerreiros, e os guerreiros começaram a tratar seu trabalho com mais seriedade. O grau para o qual você se move nesse continuum, para longe da "ovelhice" e da negação, é o grau no qual você estará preparado para defender-se e a seus entes queridos, fisicamente e psicologicamente, na hora da verdade.


Retirado de: http://www.mvb.org.br/artigos/ovelhasloboscaes.php